Em vida, Carolina escreveu diversas cartas, nas quais compartilhava aspectos de sua experiência. No arquivo de Carolina Maria de Jesus na Biblioteca Nacional, encontram-se sete cartas escritas por ela.
Os destinatários dessas cartas foram: sr. Hernani, Gerson Tavares (cineasta importante na década de 1960); Naylor de Oliveira (radialista baiano conhecido em São Paulo naquela época); Sr. Marinho (possivelmente trata-se de Roberto Marinho, que abriu a sua filial da Rádio Globo em São Paulo em 1966) e Leo Magarinos (editor da livraria Francisco Alves). Na Carta para Gerson Tavares, escrita em Parelheiros, provavelmente em 31/12/1970, se evidencia sua persistência em relação aos seus projetos literários, bem como seu desgosto com a edição do livro Pedaços da fome.
A escritora narra ainda a história do surgimento da favela do Canindé, provavelmente a pedido do cineasta, e menciona os nomes de alguns editores internacionais.
Carolina também recebeu e recebe diversas cartas, nas quais ela é o destino de quem escreve
“Pois é, Carolina, as misérias dos pobres do mundo inteiro se parecem como irmãs. Todos leem você por curiosidade, já eu jamais a lerei; tudo o que você escreveu, eu conheço, e tanto é assim que as outras pessoas, por mais indiferentes que sejam, ficam impressionadas com as suas palavras. Faz uma semana que comecei estas linhas, meus filhos se agitam tanto que não tenho muito tempo para deixar no papel o turbilhão de pensamentos que passa pela minha cabeça.” (Françoise Ega)
A antilhana Françoise Ega escrevera diversas cartas, jamais entregues, para Carolina. Françoise trabalhava em casas de família em Marselha, na França.
Era leitora da revista Paris Match, na qual se deparou com um texto sobre Carolina Maria de Jesus e seu Quarto de despejo. Françoise se reconheceu inteiramente em Carolina, e passou a lhe escrever cartas. Françoise morre em 1976, um ano antes de Carolina. Seu livro, “Cartas a uma negra”, foi traduzido e publicado em 2021 no Brasil.
No Brasil, Hildalia Fernandes escreveu uma carta para Carolina em 2014,
inaugurando essa tradição por aqui.
Em 2020, a Flup, Festa Literária das Periferias, em sua edição digital, cultivou e publicou cartas de autoras negras para Carolina. São momentos de partilha, poesia e criação.